Hipnólogo Guilherme Alves e o ator Tarso Brant dão dicas para ajudar pessoas trans a manter o equilíbrio emocional
A terapia de hormonização, tanto para homens quanto para mulheres em transição, faz com que o emocional fique afetado e que tanto o humor, a ansiedade, a capacidade de concentração e outros aspectos relacionados possam sofrer alterações durante o processo.
“A puberdade, naturalmente, já é uma montanha-russa de emoções e a hormonização realizada durante o processo de transição gera, praticamente, uma segunda puberdade que irá alterar as emoções e pensamentos da mesma maneira.” afirma Guilherme Alves.
Estes sentimentos mais elevados acabam por afetar questões comportamentais, relacionamentos e sociabilidade fazendo com que este processo de transição que, em muitos casos é cercado de dificuldades, se torne mais desafiador.
O ator transgênero Tarso Brandt, que está voltando às telinhas na reexibição da novela “A Força do Querer“, na qual interpretava o homem trans que auxilia uma personagem em sua transição de gênero, conta que fez uso de novos hábitos para passar por esta fase de maneira mais tranquila. “Adotei uma alimentação saudável, corridas matinais, exercícios físicos e estabeleci uma rotina para manter a minha cabeça no lugar. A produção de hormônios positivos oriundos dessas atividades controlavam bem minha ansiedade e humor”.
De acordo com o hipnólogo Guilherme Alves, práticas meditativas também podem ser interessantes neste período, tendo em vista que o foco no momento presente proporcionado por técnicas como o mindfullness e a meditação fazem com que não exista um pensamento no passado ou no futuro. “Pensar no futuro gera ansiedade, pensar no passado pode levar à depressão. Estas atividades que nos fazem concentrar no agora são essenciais para trazer mais calma e estabilidade emocional”.
Apesar de todas as estratégias que podem ser utilizadas, Tarso diz que o mais apropriado é que a pessoa em transição dedique um tempo para aprender coisas novas sobre ela mesma e sentar-se com sentimentos e emoções novas ou desconhecidas enquanto você as explora e se familiariza com as mesmas. “Embora a psicoterapia não seja para todos, muitas pessoas descobrem que trabalhar com um terapeuta durante a transição pode ajudá-lo a explorar esses novos pensamentos e sentimentos, conhecer seu novo corpo e ser“, afirma Guilherme Alves.
Mudanças sexuais
Outra área de impacto da terapia hormonal é no campo da sexualidade. Logo após o início do tratamento hormonal, é perceptível uma alteração na libido, seja potencializando ou minimizando.
Tarso conta que seu desejo sexual aumentou com o uso de hormônios mas que, assim como para outras questões, utilizou a academia e exercícios físicos como uma forma de extravasar o excesso de vontade. “Não acho interessante usar pessoas como objetos somente para me satisfazer. O transgênero é comumente visto como objeto e não gostaria de fazer o mesmo com outros. E no fim das contas a transição nos ensina muito que não é necessário um órgão sexual para ser feliz”.
Além da alteração na libido, algumas pessoas descobrem que seus interesses, atrações ou orientação sexual podem mudar enquanto realizam o processo de hormonização. De acordo com Guilherme, o ideal é que estes novos sentimentos sejam explorados e não reprimidos. “Suprimir sentimentos e emoções podem gerar questões psicológicas futuras que farão com que o indivíduo não aproveite o prazer em sua plenitude. É interessante que não exista medo em explorar e experimentar esta nova sexualidade por meio do autotoque, brinquedos eróticos e parceiros sexuais”, recomenda o especialista.