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Candidaturas LGBT+ na direita e o novo mapa eleitoral do Brasil

Em 2022, a organização lançou um relatório sobre as eleições municipais de 2020, que analisou o desempenho de 556 candidaturas LGBT+, das quais 97 foram eleitas. A pesquisa revelou que as lideranças LGBT+ superaram as médias gerais de desempenho eleitoral em diversos contextos, especialmente nas grandes cidades e quando contavam com financiamento adequado. Esse dado comprova o potencial eleitoral dessas candidaturas quando recebem o suporte necessário. | Imagem : Pexels

A oficialização de 3 mil candidaturas LGBT+ nestas eleições, quase metade em partidos de centro e direita, desafia expectativas e levanta questões



As eleições de 2024 no Brasil marcam um momento histórico para a visibilidade das candidaturas LGBT+. Pela primeira vez, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contabilizou oficialmente essas candidaturas, representando um avanço não apenas para as eleições brasileiras, mas também para o reconhecimento formal das lideranças LGBT+ no cenário político. Esse feito é especialmente importante, considerando que órgãos como o IBGE continuam resistindo em incluir a população LGBT+ em seus registros, adotando posturas refratárias e transfóbicas.

O VoteLGBT, com 10 anos de atuação suprapartidária, sempre buscou abrir caminhos para que lideranças LGBT+ possam participar da política de forma plena e segura. Até recentemente, cabia ao movimento social a responsabilidade de identificar e monitorar essas candidaturas. Em 2022, a organização lançou um relatório sobre as eleições municipais de 2020, que analisou o desempenho de 556 candidaturas LGBT+, das quais 97 foram eleitas. A pesquisa revelou que as lideranças LGBT+ superaram as médias gerais de desempenho eleitoral em diversos contextos, especialmente nas grandes cidades e quando contavam com financiamento adequado. Esse dado comprova o potencial eleitoral dessas candidaturas quando recebem o suporte necessário.

Agora, com os dados do TSE em mãos, observamos um cenário mais abrangente: foram adicionadas mais de 2400 candidaturas LGBT+ que antes não conseguíamos mapear, totalizando 3037 candidaturas. Ao analisar esse cenário mais amplo, verificamos que 48,7% dessas candidaturas estão filiadas a partidos de centro (26,8%) e direita (21,9%), o que vai contra a expectativa comum. Com a direita tão organizada em seus ataques às comunidades LGBT+, como explicar a presença de tantas candidaturas declaradamente LGBT+ nesses partidos?

Uma das hipóteses vem da capilaridade dessas siglas em todo o país. Em 2024, segundo dados do TSE, o PT lançou candidaturas em cerca de 64% dos municípios brasileiros, enquanto o PSOL alcançou apenas 10%. Por outro lado, partidos como MDB e PP têm uma presença muito mais robusta, com candidaturas em 74% e 67% dos municípios, respectivamente. Essa distribuição faz com que muitas lideranças LGBT+ em cidades menores optem por partidos de centro e direita, não por alinhamento ideológico, mas pelo contexto local.

Durante as entrevistas para o relatório “A política LGBT+ Brasileira: entre potências e apagamentos”, muitas lideranças LGBT+ eleitas por partidos de centro e direita relataram atuar de forma progressista, embora estivessem em siglas tradicionalmente conservadoras. Ao serem questionadas, explicaram que a escolha do partido estava mais relacionada às dinâmicas locais de poder e influência política do que às diretrizes nacionais, mostrando que a viabilidade eleitoral tem peso considerável nessa escolha.

A verdade é que, mesmo dentro dos partidos de esquerda, a realidade local nem sempre é tão acolhedora quanto se imagina. Embora seja na esquerda onde se concentram mais candidaturas LGBT+ e embora alguns partidos possuam políticas nacionais de apoio a essas lideranças, a prática muitas vezes não é tão cor de rosa assim. O controle sobre os recursos de campanha e o suporte prático geralmente é exercido por lideranças locais, compostas, em sua maioria, por homens cisgêneros, brancos, ricos e heterossexuais, que nem sempre estão interessados em abrir espaço para a diversidade política.

Os relatos de sabotagem são numerosos: desde a não confirmação de pré-candidaturas promissoras, retenção de financiamento, até desfiliações arbitrárias de uma vereadora trans, feita na surdina. A LGBTfobia não escolhe partido. A diferença é que, na extrema direita, essa violência se tornou uma estratégia eleitoral consolidada em várias partes do mundo, em que o modus operandi são discursos de ódio e ataques diretos às lideranças LGBT+, sobretudo as pessoas trans. No Brasil, esses crimes são financiados com dinheiro público.

Com a oficialização dos dados do TSE, esperamos obter uma visão mais clara do desempenho eleitoral dessas candidaturas nas eleições de 2024. Pela primeira vez, teremos a oportunidade de analisar dados oficiais sobre o número de lideranças LGBT+ eleitas e o nível de apoio oferecido por cada partido. Esse avanço é essencial para a criação de políticas públicas que garantam maior segurança e viabilidade para as lideranças LGBT+ no cenário político institucional.

A visibilidade proporcionada pelos dados produzidos pelo TSE nessas eleições é fundamental, mas é preciso um entendimento aprofundado do contexto para entender o que significam. Para as LGBT+, nem sempre a tendência política pessoal pode coincidir com seus partidos. O desafio agora é abordar esses dados sem preconceitos. Se conseguirmos olhar para eles com curiosidade e interesse, vamos aprender muito!

Sem diversidade, não há democracia.

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