Pesquisa brasileira avalia a capacidade aeróbica de mulheres trans

O trabalho de autoria do endocrinologista Leonardo Alvares é pioneiro no mundo e foi publicado na British Journal of Sports Medicine
Estudo é de autoria do endocrinologista Leonardo Alvares - Imagem : Getty Images

Um estudo pioneiro desenvolvido em São Paulo avalia as capacidades desportivas de mulheres transgênero. O tema é tese de doutorado do endocrinologista Leonardo Alvares, professor de Medicina do Centro Universitário São Camilo, e foi publicado em outubro na British Journal of Sports Medicine (The BJSM) , uma das revistas científicas mais influentes do mundo.

Até a referida publicação, a literatura científica mundial apresentava apenas a avaliação de composição corporal e força muscular , principalmente nos primeiros anos de hormonioterapia. “O ineditismo desse estudo é que além da composição corporal e força muscular, também foi avaliada a capacidade aeróbica dessas mulheres, ou seja, a capacidade de corrida, por exemplo. É uma variável muito importante dentro do desempenho desportivo”, detalha o médico. “Grande diferencial também é o fato de as mulheres trans avaliadas já estarem em hormonioterapia em média há 14 anos.”

Em termos de musculatura e de força, os dados obtidos na tese de doutorado, realizada no setor de endocrinologia e de fisiologia cardiopulmonar do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, corroboram o que já foi constatado em outros estudos. “A musculatura da mulher trans cai, mas não fica igual à da mulher cisgênero. O mesmo foi verificado na capacidade aeróbica. Essa capacidade diminui, mas também não se iguala à da mulher cisgênero”, diz.

Na publicação apresentou-se a análise das capacidades desportivas de 15 mulheres trans comparadas as de 13 mulheres cis e 14 homens cis. O pareamento de todos os participantes foi baseado no Índice de Massa Corporal (IMC) e no nível de atividade física feito por essas pessoas.

Eu não poderia comparar, por exemplo, uma mulher trans sedentária a uma mulher cis que vai à academia cinco vezes por semana. Utilizamos formulários internacionais para isso, que avaliam o nível de atividade física dos participantes. É um dado inclusive validado para a população brasileira”, garante Alvares.

O pesquisador e professor do Centro Universitário São Camilo já coordena e realiza o aprofundamento desta pesquisa no laboratório de exercício da instituição, e conta com time de pesquisadores renomados dentro de suas respectivas áreas como Nutrição, Fisioterapia, Fisiologia do Esporte e Medicina do Esporte.