Escritora trans, Amara Moira é destaque em programa esportivo da Globo
Ela contou como é sua relação com o futebol, com o time do coração, Palmeiras, e sobre o tratamento que recebe ao acompanhar os jogos nos estádios
Amara Moira (foto( é palmeirense desde criança e ama ir aos estádios - Imagens : Reprodução | GShow
Amara Moira foi a personagem central do especial "Lugar de Mulher", do "Globo Esporte", da TV Globo, desta sexta-feira (10 de março), em homenagem à semana da mulher, e falou sobre a paixão que nutre pelo Palmeiras, seu time do coração. Na reportagem, a escritora trans também contou que gosta muito de acompanhar os jogos nos estádios e que sentia medo de fazer isso quando passou pela transição.
"Fiquei um tempo sem vir ao estádio, depois da minha transição, porque eu comecei a achar que esse lugar não era mais para corpos como o meu, para pessoas como eu. A gente sabe que até hoje os LGBTs não gostam muito de futebol, mas nos perguntamos se realmente não gostamos ou este espaço é hostil conosco", opinou.
A escritora também relatou que a experiência de estar em um estádio ainda é ameaçadora para uma mulher trans e existe sempre um temor com relação aos outros torcedores se eles serão hostis durante a partida. Amara salientou que o Palmeiras vem passando por uma fase muito positiva, o que facilita esse relacionamento com os outros, mas caso ele entre em uma maré de sorte, questiona se vão colocar a culpa na travesti.
"Ter alguém aqui que chama a atenção para isso, que faz com que as pessoas ao redor pensem a respeito, comecem a se acostumar com a ideia [de ter travestis no estádio], pode ser que outras pessoas se sintam à vontade e a gente vá tornando esse lugar confortável. Não quero vantagens. Só quero saber que vou ao estádio torcer pelo meu Palmeiras e vou voltar viva para casa, que não vou apanhar, ser xingada, que não terei medo."
Ela conta que o processo para conseguir voltar aos estádios após a transição foi aos poucos, passo a passo, optando por uma roupa mais discreta até ao ponto de levar uma bandeira da comunidade LGBT.
"Eu só não sei se [a torcida] vai se comportar dessa maneira caso o Palmeiras entre numa crise medonha. Mas enquanto está nessa maré de sorte, eu tenho sido tratada com muita tranquilidade aqui. Na hora da vistoria não tive problemas e passei pela feminina, no banheiro também usei o feminino tranquilamente", disse.
Amara também destacou que o futebol é um dos acontecimentos mais importantes da sociedade atual e quanto mais a torcida deixa esse espaço imune às discussões dos últimos tempos, mais ele continua da forma que sempre foi: um espaço de reprodução de preconceitos e discriminação.
"Eu sou palmeirense, sempre fui. Não vão querer me tirar isso agora só porque agora sou travesti, uma mulher trans. Continuo com o direito de torcer por este time e quanto mais a gente torcer, maior ele vai ser. Quanto mais pessoas se sentem confortáveis diante de um jogo de futebol, em um estádio, mais importante ele se torna."