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EleiçÔes 2024: Os desafios que as pessoas trans enfrentam na polĂtica
Ameaças, agressÔes e também falta de apoio dentro dos partidos dificultam as candidaturas de pessoas trans e travestis
Essas duas decisĂ”es vĂŁo na contramĂŁo de levantamentos que verificam um aumento de candidaturas de pessoas trans e travestis na Ășltima dĂ©cada no Brasil e chamam a atenção para os motivos que fazem essas lideranças deixarem a polĂtica institucional.
Representantes de entidades que atuam na promoção da diversidade dizem que a violĂȘncia polĂtica de gĂȘnero e a falta de apoio dos partidos sĂŁo as principais barreiras para a permanĂȘncia das pessoas trans e travestis na polĂtica institucional.
âQuando falamos de um corpo trans na polĂtica, nĂŁo Ă© basicamente uma candidatura. Ă uma candidatura que advĂ©m de um ambiente hostil desde sempre. HĂĄ barreiras polĂticas, partidĂĄrias, sociais, escolares e familiaresâ, afirma o cientista polĂtico Miguel Soares Silveira, da Universidade de Barcelona, que pesquisou a evolução quantitativa das candidaturas de pessoas trans e travestis no Brasil entre 2002 e 2020.
NĂŁo hĂĄ, no cadastro de candidaturas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um campo de preenchimento para declaração de gĂȘnero âtravesti ou transexualâ, mas desde 2018 o TSE permite a inclusĂŁo do nome social no tĂtulo de eleitor e na candidatura. Nas eleiçÔes de 2020, 171 pessoas optaram por utilizar o nome social, o que representa 0,03% dos 557 mil registros.
A eleição municipal de 2024 servirå para verificar se houve um aumento. Um levantamento a partir de autodeclaração numa plataforma online, feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e a organização VoteLGBT+, registrou 147 pré-candidaturas de pessoas trans e travestis até meados de julho. Os dados oficiais do TSE só serão divulgados após 15 de agosto, quando termina o prazo de registro.
ARobeyoncĂ© Lima elenca trĂȘs motivos para nĂŁo se candidatar este ano. âA violĂȘncia polĂtica dirigida a corpos como o meu, o imperativo de que esses corpos precisam ocupar determinados lugares, e a insurgĂȘncia deste mesmo corpo buscando elaborar suas prĂłprias estratĂ©gias e deliberaçÔes foram alguns dos fatores que me levaram a tomar essa decisĂŁoâ, disse.
Ameaças e violĂȘncia
No Brasil, a primeira vereadora travesti foi KĂĄtia Tapety, em 1992. Ela foi reeleita trĂȘs vezes na cidade de ColĂŽnia, no PiauĂ, mas atĂ© 2002 nĂŁo houve novas candidaturas de pessoas trans e travestis, de acordo com Silveira.
Em 2020, 30 pessoas trans e travestis foram eleitas, de acordo com levantamento da Antra: 275% a mais do que em 2016. âHĂĄ uma luta contĂnua e latente com a qual os corpos trans precisam se deparar ao entrar na polĂtica institucional: como vocĂȘ vai se sentir bem num ambiente que todos os dias reforça a ideia de que vocĂȘ nĂŁo deveria estar ali?â, questiona o pesquisador.
Entre as prĂ©-candidaturas jĂĄ mapeadas pela VoteLGBT, 82% sĂŁo de mulheres trans e travestis. Para elas, participar da polĂtica institucional significa tambĂ©m lidar com a violĂȘncia polĂtica de gĂȘnero. A Lei 14.192, que considera violĂȘncia polĂtica qualquer ação ou omissĂŁo para impedir, obstaculizar ou restringir os direitos polĂticos de uma mulher, completa trĂȘs anos no prĂłximo mĂȘs. Desde sua entrada em vigor, ela jĂĄ levou a 215 denĂșncias no MinistĂ©rio PĂșblico Federal (MPF). Dez estĂŁo relacionadas a parlamentares trans e travestis.