Lula dá esperança de um país justo para LGBTs, dizem especialistas
Apesar de ter um número de propostas tímido, o presidente eleito ao menos menciona a comunidade em seus planos, diferentemente do candidato derrotado
O segundo turno das eleições à presidência da República no último domingo (30 de outubro) deixou toda a comunidade LGBTQIA+ sem fôlego esperando pelo anúncio da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. A conquista do candidato do PT chegou exatamente às 19h57 e pôs fim a quatro anos de esquecimento das pautas desta população por parte do atual presidente, Jair Bolsonaro, que nem ao menos mencionava essas pessoas em suas propostas de governo para os próximos anos.
Apesar da vencer nas urnas com 50,9% dos votos, as propostas de Lula são bem tímidas e não ocupam mais do que dois parágrafos nos documentos registrados no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e que devem representar cerca de 15% dos brasileiros, ou mais de 30 milhões de pessoas, segundo estimativa da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos ). O ex-presidente faz apenas duas menções à população LGBTQIA+ em seu plano de governo, sendo a primeira garantindo o direito dessa comunidade à saúde e também o combate à homofobia e à transfobia .
Para o historiador Philippe Arthur, esse cenário tem uma importância crucial não apenas para a comunidade LGBTQIA+, mas para todas as minorias políticas como a população negra, mulheres, periféricos, indígenas, todos aqueles que estiveram excluídos, à margem das políticas públicas e federais nestes últimos quatro anos. Ele ressalta que é de suma relevância que essas pessoas tenham proteção de vida, assim como suas liberdades e individualidades.
“Existe um exercício histórico de quatro anos de perseguição, que se pode dizer, inclusive, institucional, mas sobretudo por meio de falas que são acompanhadas de um desdém . Por mais que isso não seja escrito, é verbalizado e manifestado por meio da equipe técnica [do atual presidente] e, querendo ou não, há uma repercussão e um impacto sobre os grupos mais vulneráveis e que são colocados à margem da política”, comenta.
Garantir a cidadania para a comunidade LGBTQIA+ é o grande desafio deste novo governo que se inicia dia 1º de janeiro de 2023, isso não apenas em algumas linhas do plano de governo – segundo o acadêmico – mas em todas as esferas, como por exemplo o acesso ao trabalho, o respeito, a dignidade da pessoa, à sua identidade, entre outros pontos importantes para construir um país mais justo.
“Há uma grande batalha que não depende apenas dos projetos do governo federal, mas daquilo que vai ser encaminhado também para as duas casas legislativas. Querendo ou não, ações protagonizadas pelo governo federal repercutem sobre outras ações dos estados, ou seja, é como um espelho: aquilo que o governo federal promove também tem um impacto sobre as políticas dos estados e dos governos dos municípios.”