Mãe denuncia caso de transfobia contra filha em evento de Samba no Rio
Caso ocorreu no Samba do Trabalhador; e segundo relato um grupo começou a fazer "gestos obscenos e 'arminhas' com as mãos"
A mãe de uma adolescente trans denunciou um caso de transfobia sofrido durante o Samba do Trabalhador , realizado na segunda-feira passada (02 de janeiro) à noite no Renascença Clube , no Andaraí, na Zona Norte do Rio.
Segundo o relato, a família estava na primeira edição do evento no ano quando um grupo próximo começou a fazer "gestos obscenos e 'arminhas' com as mãos", além de falar xingamentos e ofensas transfóbicas.
Em uma mensagem endereçada à diretoria do Renascença Clube e aos organizadores, a mulher relata as agressões sofridas. O clube publicou uma nota de repúdio no fim da noite de quarta-feira, e o músico e compositor Moacyr Luz, à frente da roda de samba, disse lamentar profundamente o ocorrido e destaca que o samba é um lugar de acolhimento.
No texto em que relata o ocorrido, a mãe da jovem conta que um dos homens registrou imagens da adolescente e que foram feitos "diversos comentários vulgares e de forte cunho sexual".
“Nossa filha é uma adolescente trans que estava com sua família em um ambiente de lazer que deveria ser um espaço seguro", escreveu a mãe da jovem em publicação nas redes sociais.
O relato continua, e a mulher conta que a família frequenta o clube há anos e que nunca passou por situação semelhante. Ela conta que a maior preocupação diante da situação foi tirar a adolescente em segurança do local. Ela pediu um posicionamento do clube e dos organizadores do evento sobre o caso, e destacou que é possível discordar, desde que haja respeito.
"Frequentamos esse espaço há anos e nunca vivemos algo parecido. Nossa prioridade foi tirar minha filha do ambiente o mais rápido possível e em segurança, já que as pessoas que proferiram as ofensas transfóbicas estavam visivelmente embriagadas e com postura agressiva. Sou mãe de uma jovem mulher negra trans. Proteger a vida da minha filha é minha prioridade. Venho por meio deste texto pedir que a diretoria do Renascença Clube e os responsáveis pela roda de samba se pronunciem com muito rigor contra a violência que sofremos. Ninguém deveria passar por este tipo de constrangimento. Entendo que o espaço é aberto ao público e que as pessoas têm o direito de divergir, mas lembramos que o exercício da liberdade requer responsabilidade. Por isso exigimos respeito, que é o mínimo que seres humanos devem ter pelo outro", concluiu.
O músico e compositor Moacyr Luz , à frente do Samba do Trabalhador, disse ter tomado conhecimento do caso no fim da manhã na quinta-feira. Ele se apresentava com a roda de samba no evento, como é feito toda semana, e não notou nenhum tumulto nem desentendimento em meio ao público. Além de também repudiar o ocorrido, ele destacou que o local é um espaço de combate a preconceitos.
“Nossa roda é um lugar de amor, de carinho, de acolhimento. É assim desde os nossos primeiros minutos, em maio de 2005”, escreveu ele em post.
Por meio de nota, o Renascença Clube disse, no fim da noite de quarta-feira, não ser possível identificar os responsáveis envolvidos no caso e destacou repudiar "quaisquer formas de discriminação", salientando ser necessário combater os diversos tipos de preconceito.
"O Renascença Clube manifesta repúdio a quaisquer formas de discriminação que levaram e levam ao exercício de poder sobre as pessoas por conta da cor da sua pele, religião, orientação sexual, dentre outras. Como parte da sociedade somos diferentes e nessa característica reside a nossa força, beleza e possibilidades de criação e recriação! É fundamental que se desmistifique noções preconceituosas como a transfobia, o sexismo, o racismo e qualquer tipo de opressão. Acreditamos que é, ainda, dever ético de todos reconhecer a diversidade do gênero humano. Infelizmente, não temos como detectar àqueles que, em sua ignorância, praticaram atos indefensáveis", diz trecho do comunicado.
O clube ainda citou que transfobia é crime e se enquadra na Lei 7.716/89, a Lei do Racismo, desde junho de 2019. A pena prevista é a mesma para ofensa por questões de raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: reclusão de um a três anos e multa.
"Uma vez mais nos solidarizamos com aqueles que são ofendidos, afirmando que é inadmissível que espaços como o nosso, de atuação cultural, sejam palco de violências contra as identidades de gênero. Lutamos para que possamos viver em uma sociedade livre de preconceitos e discriminações", concluiu a nota.