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Catar prende turista gay por usar aplicativo de relacionamento

Manuel Guerrero Aviña foi detido no mês passado e pressionado pela polícia a revelar os nomes de seus parceiros sexuais



Manuel (á esquerda) ainda está no Qatar, e seu irmão (á direta) entrou em campanha para que o Reino Unido autorize a repatriação dele para a Inglaterra | Imagens - Arquivo Pessoal

Um homem homossexual foi detido no Catar no mês passado, em uma operação policial que mirava usuários do aplicativo Grindr, de relacionamentos homoafetivos. Ele foi detido em uma emboscada, após marcar um encontro pelo aplicativo com um policial disfarçado.

Manuel Guerrero Aviña, de 44 anos, foi pressionado a revelar os nomes dos homens com quem teve relações sexuais como condição para ser libertado da prisão. Apesar de pressionado, o ex-gerente da British Airways não revelou os nomes de seus parceiros para a polícia do país.

Relações homosssexuais no país muçulmano são punidas com até sete anos de prisão, de acordo com a Sharia — lei islâmica baseada no Alcorão, o livro sagrado do islamismo. As violações de direitos contra a população LGBTQIA+ no país ganharam destaque após o Catar sediar a Copa do Mundo de futebol em 2022.

Manuel, que vive com HIV , já está fora da prisão, mas enfrenta um processo judicial. De acordo com seu irmão, Enrique Guerrero Aviña, o jovem britânico-mexicano está proibido de sair do Catar e está prestes a ficar sem medicação antirretroviral, utilizada no tratamento contra o vírus.

Em declarações à revista Attitude no fim de março, Enrique disse que Manuel está sob liberdade condicional e aguardando julgamento no país do Oriente Médio.

"Ele está muito afetado pela tortura, pelo stress pós-traumático, mas tem esperança de que, com a solidariedade da comunidade LGBTQ e das organizações de todo o mundo, e com tudo o que estamos a fazer, possamos alcançar a liberdade e a justiça. Porém [ele] está preocupado com a sua saúde e com o acesso aos medicamentos”, acrescentou Enrique.

O irmão de Manuel destacou que suspender a medicação antirretroviral por algum tempo e depois retomar seu uso é muito perigoso, pois isso pode gerar resistência ao medicamento. Segundo ele, enquanto Manuel esteve na prisão, sua medicação para o HIV foi retida pela polícia "para criar pressão psicológica".

"Fizeram uma intervenção para saber os nomes dos parceiros sexuais de Manuel. Isso foi antes da libertação. Esse ato de tortura foi documentado pela embaixada do Reino Unido. É como um julgamento do século passado”, disse Enrique, confirmando que Manuel resistiu à polícia e não revelou os nomes dos parceiros.

Manuel tem dupla nacionalidade, mexicana e britânica, e seu irmão está numa campanha para trazê-lo de volta à Inglaterra. “Meu irmão precisa ser repatriado. O governo do Reino Unido pode até fazer isso, mas ainda precisamos que decidam pela repatriação”, conta.

"Precisamos do apoio e da solidariedade da comunidade LGBT e dos cidadãos britânicos para fazer mais pressão. O governo do Reino Unido pode fazer mais esforços para salvar a vida de Manuel e para o trazer para casa. Ele é um cidadão britânico”, relata Enrique.

À Attitude, ele continuou: "O governo britânico conhece o caso, a situação e o fato de Manuel não ter acesso a um julgamento justo. Manuel esteve 38 dias sem advogado e sem tradutor. Até hoje, o advogado não tem acesso aos arquivos [judiciais]. Isso não é justo."

Enrique lidera a campanha “QatarFreeManuel” (Qatar Liberte Manuel, em tradução), atualizando a situação do irmão em um perfil no X/Twitter. Ele também denunciou que foram plantadas drogas em seu irmão no momento da prisão. "O governo do Catar pensa que o HIV faz parte de uma rede criminosa. Querem saber os nomes dos parceiros sexuais para os pegarem. É terrível", finaliza.


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