Um estudo de coautoria de acadêmicos da Universidade de Lancaster, no Reino Unido , e da Universidade de Alberta, no Canadá , observou quase 23 mil pessoas duas vezes ao longo de um período de seis anos para entender o quão fluida é a identidade dos cidadãos britânicos. A pesquisa faz parte do estudo longitudinal doméstico do Reino Unido.

Os pesquisadores descobriram que 6,6% das pessoas, cerca de uma em cada 15, mudaram sua identidade sexual durante o período analisado. O estudo foi publicado na revista de pesquisa Demography, no início de junho.

Os grupos com maior mobilidade em termos de identidade sexual foram os dos 16-24 anos (7,9%) e os adultos com 65 e mais anos (7,4%), enquanto que o grupo intermediário entre estas faixas – dos 25 aos 64 anos – variaram entre 5% e 6,2%.

A pesquisadora Nicole Denier, da Universidade de Alberta, considera que os resultados desafiam a ideia de que a fluidez sexual é mais comum em faixas etárias mais jovens.

Ela disse ao The Guardian que as suposições de que a fluidez é predominante apenas em grupos de idade mais jovem levaram a “muitas pesquisas com foco na adolescência como um estágio crítico do desenvolvimento da identidade sexual”.

“Nossas descobertas sugerem que as mudanças na identidade sexual representam um tópico de pesquisa igualmente valioso entre os idosos e, de fato, durante toda a vida”, acrescentou ela.

Pessoas não brancas e com menos acesso à educação são mais fluidas

A sexualidade com maior mobilidade de identidade sexual foi aquela que se autoidentificou como bissexual , outras identidades ou preferiu não revelar a identidade.

Em contraste, a menor mobilidade da identidade sexual foi observada naqueles que se identificaram como heterossexuais, com apenas 3,3% mudando de identidade – apenas 0,2% mudando para gay/ lésbica , 0,8% para bissexual, 0,6% para outras identidades e 1,7% para “prefiro não dizer”.

A pesquisa também descobriu que pessoas não brancas e indivíduos com menos escolaridade também eram mais propensos a relatar uma mudança em sua identidade sexual.

A taxa para pessoas não brancas foi significativa, com 15,5% de indivíduos de minorias étnicas experimentando alguma forma de mobilidade de identidade sexual, mais de três vezes a taxa para pessoas brancas (5%).

Os homens, no entanto, eram 10% menos propensos a relatar uma mudança do que as mulheres. Embora os dados sejam abrangentes, eles não explicam por que certos grupos demográficos experimentam maior mobilidade sexual do que outros.

Comentando o fato de que os homens são menos propensos a serem sexualmente fluidos, Denier afirma que “As teorias existentes sugerem que normas rígidas em torno da ‘ masculinidade ’ podem significar que os homens podem ser menos flexíveis e fluidos em suas expressões de identidade sexual”.

Em termos de minorias étnicas e raciais e aqueles com menos escolaridade, Denier disse que esses grupos podem ser “mais suscetíveis a múltiplas formas de pressão social e estresse minoritário, que podem influenciar sua identificação e relatórios de identidade”.

Abtisam Ahmed, chefe de política e pesquisa da Fundação LGBT, saudou a pesquisa em entrevista ao The Guardian.

“Esperamos que esta pesquisa possa desafiar várias suposições sociais – [e aumentar a conscientização] de que as pessoas podem assumir mais de uma vez, que isso é comum e que isso deve ser respeitado como parte da jornada de alguém”, afirmou o ativista.

“Esta pesquisa também desafia uma das suposições predominantes na grande mídia/sociedade no momento de que as pessoas LGBTQ+ tendem a ser mais jovens ou que isso é visto como uma ‘tendência’ entre os jovens”, continuou ele. “Esta pesquisa destaca claramente que assumir [a sexualidade queer]pode e acontece em qualquer fase da vida”.