'Bateram em mim', diz português preso na Turquia por 'parecer gay'
Miguel Álvaro estava no país em viagem de férias quando foi surpreendido pela força policial que bateu em suas costelas e ombros, que começaram a sangrar
Na foto, Miguel Álvaro conta que foi abordado por oito policiais - Foto : Reprodução |Instagram
O português Miguel Álvaro, de 34 anos, estava viajando sozinho pela Turquia no final de junho deste ano quando, dois dias depois de desembarcar, foi surpreendido por oito policiais que lhe deram voz de prisão por "parecer gay". Eles teriam o agarrado pelos braços, Miguel chegou a tentar se libertar, mas foi em vão.
"Um deles me bateu nas costelas, me empurraram contra uma viatura, me bateram no ombro, que começou a sangrar”, lembrou em entrevista ao site P3. “Depois de cinco horas na viatura, onde só me disseram para me calar e ficar quieto, um deles me explicou que tinha sido detido por causa da minha aparência", detalhou.
Miguel contou que os policiais acreditavam que ele estivesse participando da Parada LGBTQIA+, realizada em Istambul e que não havia sido autorizada pelo governo do país. Naquele mesmo dia, mais de 100 pessoas já haviam sido presas justamente por estarem no evento. O governo turco havia destacado milhares de agentes de segurança para impedir que a marcha fosse realizada, tal como já havia acontecido nos anos anteriores.
Logo depois, o português foi levado para uma delegacia na cidade de Taksim, sem poder falar com ninguém por telefone, junto com outros dois estrangeiros. Em seguida, eles foram levados para uma penitenciária em Sanliurfa, na divisa com a Síria.
“Ainda não tinha dormido, feito uma refeição ou tido acesso ao meu celular desde a detenção, ninguém sabia onde eu estava”, contou Miguel. “Ficamos nessa prisão até 13 de julho, com outros reclusos (chechenos, russos, turquemenos) e sendo ameaçados de morte. Todas as noites um de nós ficava acordado para garantir que ninguém entraria na nossa cela para nos machucar”.
O português só conseguiu entrar em contato com a família para informar onde estava depois de uma semana. O pai chegou a entrar em contato com a embaixada portuguesa na Turquia, mas ninguém foi até a prisão para verificar o que estava acontecendo. Ao todo, Miguel ficou preso por 19 dias.
A legislação turca não protege, nem mesmo criminaliza a homossexualidade. Existe uma lei que proíbe a discriminação (o artigo 10 da Constituição), mas ela não prevê a defesa das pessoas que foram discriminadas por orientação sexual ou identidade de gênero. Já o artigo 13 prevê a manutenção da defesa da moralidade e da ordem pública, texto que é usado para cometer abusos contra a comunidade LGBTQIA+.